terça-feira, 9 de março de 2010

ENTREVISTA: FRANCISCO LOUÇÃ


Estou farto que haja grandes
processos que 6 anos depois
continuam por julgar

Com um curriculum invejável, Francisco Louçã, líder e fundador do Bloco de Esquerda, é um dos políticos que mais se destaca em Portugal pelo seu intervencionismo, ética e políticas socialistas.


Como surgiu o seu interesse pela política?
Eu vivi sobre uma ditadura até aos 17 anos e isso confrontava-nos imediatamente com a política, seja porque a ditadura não permite a liberdade de expressão, seja porque na altura havia uma guerra e todos os rapazes tinham que ir para a guerra. Isso confrontava-nos com a situação mais dramática que se pode ter na vida.

O que o ajudou a desenhar o seu percurso ideológico?
Foi um pouco este contexto, a percepção de que era preciso lutar pela liberdade, de que era preciso ter uma visão que contrastava com aquela ditadura de direita, de extrema-direita, que Portugal tinha. Com a visão de uma guerra imperial era preciso encontrar soluções novas, num mundo que estava a mudar muito, tinha havido o Maio de 68, tinha havido o golpe de Estado de Pinochet no Chile, enfim, sentia-se uma grande mudança e uma grande esperança e foi isso que me formou ideias de esquerda e o socialismo.

Sente que o Bloco não conseguiria assegurar uma oposição tão sólida se não fosse o líder do partido?
Nunca se consegue dizer o que é que aconteceria se a história fosse diferente daquela que existe (risos), é muito difícil dar essa resposta mas eu creio que o Bloco de Esquerda é uma força de muita gente diferente e de muita gente com muita energia, muita capacidade, muitos jovens, professores, operários, pessoas mais idosas mas que têm em comum um sentimento de grande frontalidade contra a injustiça e acho que é isso que nos dá força mais do que uma pessoa ou outra.

Karl Marx é uma referência do partido. Até que ponto é que o Bloco se apoia nesta doutrina?
Bastante, Marx foi no século XIX, em circunstâncias muito diferentes das do século XXI, mas foi um dos grandes críticos do capitalismo. Há pouco tempo o Financial Times, um grande jornal diário, digamos da burguesia inglesa, da direita histórica em Inglaterra, tinha um grande título que era: “ O Karl Marx voltou”, por causa da crise financeira, por causa deste colapso destas instituições, da percepção de que havia uma fraude gigantesca no conjunto do capital financeiro. Eu acho que é isso que nos traz Karl Marx, é uma percepção das contradições do capitalismo como ele surgiu no século XIX sendo que se desenvolveu muito depois nos séculos seguintes.
De que forma seria viável a política de relações internacionais do Bloco de Esquerda com países mais conservadores?
Nós temos relação com movimentos de opinião em muitos países, muito diferentes, nos Estados Unidos, quando o George Bush conduziu a guerra ao Iraque nós tínhamos imensas relações com milhões de pessoas que se manifestaram contra a guerra, temos relações com pessoas na Palestina e Israel que são contra a guerra. Eu acho que é possível encontrar hoje fraternidade e aproximação com pessoas que têm ideias muito próximas, como as grandes preocupações dos direitos humanos, da democracia e da responsabilidade social e eu acho que esse é o sentido do trabalho que o Bloco tem de fazer.

Qual a posição do Bloco de Esquerda em relação à política praticada em países como a China, a Coreia do Norte ou Cuba?
Nós temos uma grande hostilidade em relação ao que se passa na China ou na Coreia do Norte, são regimes de partido único com os quais nós não concordamos por inteiro, achamos que não é possível haver estados que proíbam a opinião política ou a liberdade de imprensa ou a liberdade de manifestação, a liberdade de sindicato ou de fazer greves. Tudo isso acontece na China ou na Coreia do Norte e portanto entendemos que isso é a pior caricatura que se pode fazer de uma sociedade. O socialismo tem de ser exactamente o contrário, tem de ser uma sociedade livre em que as pessoas são livres, são responsáveis, dão a sua opinião combatem pelas suas ideias, aceitam a democracia, aceitam os votos e tomam decisões em conjunto.

O Bloco é muitas vezes apontado como o grande partido de oposição permanente às políticas do Governo Sócrates. Em que medida concorda com esta afirmação?
Bem ninguém é bom juiz em causa própria (risos), eu acho que nós temos de ser um partido da oposição, escolhemos sê-lo porque combatemos as soluções liberais que têm conduzido a um grande aumento do desemprego. Nós estamos perante uma tragédia social em Portugal, 600 mil desempregados é uma tragédia gigantesca. Todas as gerações em Portugal têm mais educação, mais formação, do que os seus pais, tem evoluído assim historicamente em Portugal, mas esta é a primeira que têm mais educação do que os seus pais e vive pior do que os seus pais, normalmente vivia-se sempre melhor. Agora os jovens têm biscates, não têm emprego, tem contratos a prazo, têm recibos verdes, têm call centers, há licenciados em call centers ou emigram e, eu acho que isso é o resultado de uma política económica conduzida por Sócrates e por governos anteriores, que dá à concentração financeira todo o poder. Os bancos têm 9 milhões de euros de lucro por dia mas discutem uma taxa de multibanco para fazer pagar as pessoas pela operação multibanco, há banqueiros que recebem 40 milhões de euros de indemnização no dia em que são despedidos por ter falsificado as contas do seu banco, em vez de serem presos recebem 40 milhões de euros. Isso aconteceu em Portugal no ano passado, a corrupção pelos vistos segundo este caso “Face Oculta”, se for verdade o que se diz, atinge empresas públicas em que banqueiros recebem dinheiro para fazer apresentar pessoas a outras pessoas. Ora, isto não é um acontecimento ocasional, é uma rede social em que a ganância se torna uma forma de viver. Eu creio que é preciso ser oposição para poder ser um melhor governo contra esta situação.

Quais as condições do BE para uma aliança com o PS, agora que este não obteve maioria absoluta? Estaria disposto a moderar parte das suas políticas para as ver aprovadas na Assembleia?
Não, o que dissemos na campanha eleitoral mantemos depois, não mudamos de opinião. Dissemos que o nosso programa era um programa para responder aos problemas do país, para ir concretamente ao que se pode fazer agora em Portugal, um programa mobilizador para a solução ao desastre económico e que era isso que nos diferenciava do partido socialista, não faremos acordo com um programa que no nosso entender vai exactamente no sentido oposto do que é preciso fazer para o país. E já se viu que o PS agora está a recuar, está a recuar nos professores, está a recuar nas taxas moderadoras na saúde, bom, está a reconhecer que não tinha razão. Nós queremos que haja soluções sólidas e por isso é que não fazemos jogos políticos de alianças que sejam contrárias ao nosso compromisso com os eleitores.

Se um dia o Bloco formasse Governo qual seria o momento limite nas reformas? Quando é que passaria a força conservadora das ideias mais radicais?
Qualquer reforma opõe forças conservadoras, cria forças conservadoras. Houve um referendo sobre o aborto e forças conservadoras achavam que a mulher ainda devia ser presa por três anos de prisão se decidisse sobre a sua vida coisa que só ela pode saber. Há sempre forças conservadoras, mas vencemo-los. Eu acho que um caminho sólido de democracia, de responsabilidade vence as forças conservadoras e permite dar direito às pessoas e respeito às pessoas e acho que isso muda muito as visões de quem acha que tem que haver uma pequena elite que toma conta do país que rouba o país o que quer e que vive como quer.

O caso “Face Oculta” é um exemplo grave de tráfico de influências. O combate à corrupção é algo prioritário neste momento?
Nesse sentido, na próxima semana o parlamento vai discutir medidas sobre a corrupção: levantamento do segredo bancário, criminalização do enriquecimento ilícito, as medidas concretas para que o sistema judicial possa agir com força e acabar este sistema de impunidade. Porque eu estou farto de que haja grandes processos que são noticia e depois 6 anos depois continuam por julgar e na corrupção acontece sempre isso, sempre isso. Houve um homem, um empresário, apanhado por corrupção em Portugal, ele tinha tentado comprar um favor da Câmara de Lisboa, a maior do país, e pagava-lhes 200 mil euros e foi apanhado. Levou uma multa de 5 mil euros, o que equivale a duas multas de trânsito e foi-se embora. Eu estou farto desta situação, acho que é preciso responder contra ela, e é por isso que a corrupção é tão importante. Espero que haja maioria para estas medidas concretas que o Bloco de Esquerda está a propor.

Os marxistas afirmam o capitalismo como o grande mal da sociedade, corrompendo-a nos seus valores mais íntegros, mas não será errado fazer juízos de valor morais a uma doutrina, sendo que a ganância e a gula também possam afectar marxistas?
Eu acho que não se deve fazer juízos morais, acho que a política é uma coisa diferente da moral. A moral tem um capítulo próprio, que é individual, a política é a forma de agirmos colectivamente uns para os outros. A história teve vários regimes: o feudalismo, no antigo regime, operação asiática, o capitalismo e depois teve regimes pós-capitalistas que se traduziram num fracasso completo, como a União Soviética, a China ou a Coreia do Norte. Mas o capitalismo não é o fim da história, não tem que ser. Nós vivemos numa situação em que o capitalismo representa 10% de desemprego em Portugal, representa 2 milhões de pobres e podem-me dizer que é uma sociedade magnífica, tem certamente vantagens, aumentou a produção, há mais acesso a bens culturais. A sociedade mudou muito com o capitalismo, mas também se baseia no facto de algumas pessoas trabalharem para enriquecer outras. Acho que pode haver uma situação em que há democracia política mas há também democracia económica e há mais acesso colectivo aos bens essenciais. Eu não aceito é que um país muito mais rico que Portugal, como a Noruega, seja um país mais igualitário e que Portugal seja mais desigual, está errado. Nós temos um capitalismo dependente, ganancioso que leva a que haja enormes desigualdades e não tem nenhum sentido. Portugal é mais pobre por ser mais desigual, tem mais dificuldades por ser mais desigual, e eu não aceito que haja pessoas que possam roubar um banco, neste caso o BPN, possa haver pessoas que entram num banco com um saco para o encher de dinheiro, que se vão embora e só uns anos depois, por acaso, é que alguns foram apanhados, não sabemos se todos. Isto é o capitalismo a funcionar no seu pleno. Eu acho que isto é inaceitável, é preciso que haja muita responsabilidade e acho que isso é que é importante na mudança da sociedade.

Como é que vê a Comunicação Social em Portugal?
A Comunicação Social tem um problema muito grave, caiu numa enorme concentração. Tem um grupo público e depois há três ou quatro grupos privados que dominam por completo a televisão, rádios, a comunicação social. O que quer dizer que hoje há pouca liberdade de informação em Portugal.

Qual o seu sonho para Portugal?
Mais do que sonhos, eu acho que era preciso medidas muito urgentes, a curto prazo. Eu acho que a medida da política social, da política democrática tem que ser a criação de emprego. Acho que a economia e o país estão a piorar se continuar a aumentar o desemprego, que é o que nos dizem que vai acontecer. Se se criarem 50.000 postos de trabalho para jovens qualificados, o país está a melhorar. Se melhorar a situação dos pensionistas, que têm 200 euros de pensão, e que vivem miseravelmente, o país está a melhorar. Eu acho que era isso que se podia fazer.

Patrícia Silva
Jornalismo Político
2010

sexta-feira, 5 de março de 2010

ENTREVISTA: RAQUEL ALEXANDRA



"
HÁ A IDEIA DE UM DIVÓRCIO
ENTRE AS PESSOAS E A POLÍTICA"


Há dezoito anos na casa que a viu crescer enquanto profissional, Raquel Alexandra, jornalista de política da SIC, diz sentir-se “feliz” onde está, naquilo que faz e encantada pela área na qual se especializou. Indiferente a críticas ao seu trabalho, não descarta a hipótese de vir a ser política.

Antes de mais, porque é que gosta de jornalismo político?
Não sei bem. Perguntar-me porque é que gosto de jornalismo político é o mesmo que eu lhe perguntar porque é que gosta de chocolate. Sei que, desde sempre, a política foi a área do jornalismo que mais gostei de fazer. Depois, acabei por me especializar, quer na vertente jornalística, quer na vertente académica, em direito, precisamente porque o direito constitucional é a área mais próxima da política. Esta é uma área em que eu me sinto bem, me sinto confortável e que de alguma forma mexe comigo.

Denoto em si um certo encantamento pela política…
Sim, eu gosto muito de política. Acho que as pessoas olham a política de uma forma injusta. Como em todas as profissões, há bons e maus políticos, como há bons e maus jornalistas. Acho que a política é uma área nobre. A política é a forma de se poder melhorar e fazer coisas diferentes com a vida das pessoas. Provavelmente tem algo de utópico, algo de sonhador de que eu gosto. Gosto dessa capacidade de criar coisas através da vida das pessoas e poder melhorá-las de alguma forma. Isso é para mim muito importante.

Falemos agora do programa “Como Nunca os Viu”. A Raquel deu, com este formato, a possibilidade aos telespectadores de conhecer o outro lado do político. Acha importante conhecer-se esse outro lado?
Claro que sim. Os políticos são pessoas como nós e acho que é importante mostrar isso às pessoas. Há, na sociedade portuguesa, a ideia de um divórcio entre as pessoas e a política. Provavelmente, isso deve-se ao facto de, em determinada altura, os políticos se esconderem por detrás de posturas, de imagens, de registos que, de alguma forma os distanciou das pessoas. Quando eu pensei no programa “Como Nunca os Viu”, a minha ideia foi, precisamente, mostrar que aquelas são pessoas iguais às outras e que têm sentimentos, porque, na realidade, é preciso que as pessoas se aproximem da política. Sem a participação das pessoas, a política perde o suporte real que é importante para que as coisas possam, um dia, ser melhores.
Houve algum candidato que a tenha surpreendido?
Apesar de tudo, há sempre algo nas outras pessoas que nos surpreende. Por muito que as possamos conhecer, temos sempre a capacidade de sermos surpreendidos por elas. Isso faz parte da vida, faz parte do mundo e, se calhar por eu ter feito sempre jornalismo político e querer continuar a fazer, essa capacidade de vir a ser sempre surpreendida por essas pessoas faz parte do meu mundo do jornalismo.

Falando de surpresa, surpreendem-lhe as críticas a estes seus trabalhos com maior visibilidade?
Não, de forma alguma. Eu acho que, quando se tenta fazer algo diferente, existe alguma resistência à mudança, mas eu acho que isso é normal. É normal que existam pessoas que gostam e outras que não gostam. Isso não me surpreende, não me irrita, não me chateia. O que eu acho realmente importante, e se assim não o fosse, nós não estaríamos hoje, alguns meses depois, a falar sobre isso, é que as pessoas tenham aprendido algo com esse trabalho. É essa a minha inspiração cada vez que eu faço trabalhos desse género.

Falemos do badalado programa “Gato Fedorento Esmiúça os Sufrágios”. Eu cito Miguel Sousa Tavares na sua crónica no Expresso: “se a informação está agora a cargo dos humoristas, qual será o papel dos jornalistas no futuro breve – contar anedotas? Depois da política espectáculo, eis que demos o passo seguinte, o espectáculo-política. E todos acham normal.”
A Raquel acha normal?
Acho que é normal. Acho que faz parte da realidade da comunicação. O trabalho dos Gato Fedorento não tem nada a ver com informação e os políticos quando iam ao programa sabiam qual era o enquadramento. Isso não torna o trabalho deles mais fácil. O trabalho deles é muito complicado no sentido em que as perguntas que eles faziam aos políticos eram extremamente provocatórias. É uma vertente que nada tem a ver com informação ou com jornalismo. Confundir as duas coisas não me parece saudável, porque quando mais se confundem mais as fronteiras ficam pouco definidas.
Uma coisa é o trabalho dos Gato Fedorento, outra é o trabalho dos jornalistas de política. Acho que as fronteiras entre aquilo que é política, humor e jornalismo ficaram bem mais claras depois do programa dos Gato Fedorento.

Acha que este género de programas, e falemos deste em concreto, pioneiro em Portugal, tem influência na forma como o eleitorado vê o político?
Talvez. Provavelmente os políticos que lá foram surpreenderam as pessoas com o seu sentido de humor. Uma coisa é verdade, as pessoas gostam deste tipo de trabalho e isso é comprovado através das audiências que neste caso foram muitos boas.

Para terminar Raquel, há tantos anos nos bastidores da política, já pensou em passar para o outro lado?
Sim, já pensei. Tive algumas solicitações nesse sentido mas eu sou muito feliz onde estou. Gosto muito daquilo que faço e enquanto gostar quero continuar a fazer. Passar para o lado de lá é uma decisão irreversível na minha carreira que eu, neste momento, não quero tomar.
Entrevista: PEDRO FERNANDES
Jornalismo Político-2ºano
2009

ENTREVISTA: KLEPHT



KLEPHT OS NOVOS GUERREIROS
DA MÚSICA PORTUGUESA


Os Klepht são 5 rapazes, oriundos de Lisboa e amigos de longa data. Foi num ambiente de descontracção e com grande simpatia que os elementos Diogo Dias (voz, guitarra e piano), Filipe Contente (baixo), Marco Reis (guitarra), Francisco Duarte (guitarra) e Mário Sousa (bateria) nos receberam no espaço onde ensaiam.


Como se formaram os Klepht?
D.D: Na altura em que andávamos na escola, eu e o Francisco tocávamos algumas músicas, entretanto decidimos concorrer a um concurso, ganhámos o concurso e começámos a criar uma banda. Começámos por ser nós os dois, mais o antigo baterista, que também era nosso colega. Quando entrámos para a faculdade, conhecemos o Filipe, que era do Algarve e que conhecia o Marco, que por sua vez era grande amigo do Mário. Houve várias mudanças na banda, em 2000 os Klepht formaram-se como são actualmente.

De onde deriva o nome Klepht?
DD: Lembrámo-nos de palavra Klepht, porque a sonoridade agradava-nos e achámos o significado interessante. Os Klepht eram uma guerrilha no séc.XV, formaram-se quando o Império Otomano invadiu a Grécia, houve um grupo de gregos que se manteve independente nas montanhas e vinham à cidade pilhar as casas, como forma de luta pelo povo grego. Gostámos do factor guerrilha, porque andámos 10 anos a tocar em bares, sem receber dinheiro, à espera de uma oportunidade, é preciso ter espírito de guerrilheiro.

Como descrevem a vossa música?
MR:
Gostamos de nos assumir como uma banda rock-pop.

Antes do lançamento do álbum, os Klepht já existiam há 7 anos, tiveram dificuldade em chegar às editoras?
DD
: Sem dúvida. Para chamar a atenção das editoras, organizámos um evento no Musicais, e ligámos insistentemente a todas as editoras para que estivessem presentes. Apareceram apenas 3 editoras, no entanto foram aquelas que nós estávamos mais interessados em assinar. Tivemos que mudar de editora, de produtor, até o álbum sair, foi de facto, um processo demoroso e complicado.

Como foi a experiência em estúdio?
MS: Foi difícil, tivemos quase 2 anos para conseguir acertar datas no estúdio.
FD: Quando conseguimos, estivemos a gravar 12 horas por dia, durante 15 dias. Mas é sempre divertido, porque estamos a fazer o que gostamos.

Podem-nos falar um pouco sobre o processo de composição? Escrevem juntos ou individualmente?
DD: A música cria-se na sala de ensaios, é um processo que pode demorar muito tempo, como pode ser muito rápido conseguirmos o resultado ideal. Normalmente um tema demora quatro ensaios a ser feito.
MR: Não há um método, a inspiração não vem quando queremos, vem quando nos apetece, às vezes surge uma boa letra e criamos uma música para a acompanhar, outras vezes só tenho um “la la la” e uma boa malha de guitarra ou de teclado e trabalham-se as letras. As letras são todas do Diogo, muitas das ideias do instrumental são dele também, quando estamos no ensaio trabalhamos essas ideias e cada um dá o seu contributo.

Cada vez mais as bandas nacionais cantam em inglês, vocês são excepção porquê?
MR: Porque não percebemos nada de inglês (risos).

FC: Eu gosto que a nossa letra se faça entender e faça sentido, acho que a música tem de ter uma mensagem e essa mensagem tem de chegar às pessoas. É em português que nos expressamos, é em português que falamos com os nossos país e com os nossos amigos, e por isso como estamos em Portugal, gostamos de cantar em português.

MR: Outra razão é que gostamos muito da forma como o Diogo escreve, escreve de forma simples e escrever bem é difícil. É obvio que a sonoridade inglesa é mais fácil, a métrica é mais simples e como é em inglês as pessoas não reparam muito na letra e na mensagem que transmite.

Quais as vossas expectativas para o futuro?
DD: Este primeiro álbum correu bem, mas não foi um sucesso a nível nacional, que tenha marcado o mundo da música. O nosso objectivo é marcar o panorama nacional da música portuguesa. Sabemos que é uma ilusão querer agradar a todos, mas queremos agradar ao máximo de pessoas possível.
Gostávamos muito de ter uma carreira como a dos Xutos&Pontapés, estarmos aqui com 50 anos a tocar.

MS: Acho que um dos objectivos de qualquer banda é viver só da música.

DD: Nós temos a perfeita noção de que se não trabalhássemos e só nos dedicássemos à música, seríamos com certeza melhores músicos. Mas isso ainda é impossível, é um dos nossos sonhos.

Entrevista: PATRÍCIA SILVA & SARA BAPTISTA
Géneros Jornalísticos - 1ºano
2009

quarta-feira, 3 de março de 2010

PERFIL: NATACHA FONTINHA


SEM ARREPENDIMENTOS


Natacha Fontinha, gerente da loja de tatuagens e piercings Bad Bones, no Bairro Alto, considera-se uma felizarda. Diz não se inserir na sociedade, por ter um perfil “esquisito”.
Nasceu “algures, num ano fantástico, no mês de Janeiro” e não diz a idade porque considera mais um rótulo. Veio de uma família muito tradicional e nacionalista. O seu pai era democrata e educou-a para aceitar as diferenças e gostar de todo o tipo de pessoas, tornando-se assim a sua grande referência. Durante a sua infância viveu em vários sítios, sem nunca sair de Lisboa. Passada a infância triste e solitária, iniciou a busca pela sua vocação, aos 16 anos, e teve apoio familiar, principalmente do pai.
Com um sentido estético apurado, trabalhava na moda quando conheceu o seu marido, Fontinha. Daí à tatuagem foi um passo curto. Foi ganhando amor pela profissão e hoje adora o que faz. Quando os pais faleceram, abdicou da restante família e constituiu uma nova com a equipa da Bad Bones, a sua segunda casa.
Com o corpo coberto de tatuagens, não se lembra que idade tinha quando fez a primeira. Considera-as todas igualmente especiais, mas atribui um lugar especial ao retrato do filho, Átila. Se voltasse a nascer, gostaria de ser a mesma pessoa e fazer tudo novamente. Todos os dias vai para uma loja que gosta, com pessoas que gosta, onde faz o que gosta, à sua vontade. Só deseja uma coisa: saúde, para poder continuar a trabalhar.
Perfil: JOANA REBELO MORAIS
Géneros Jornalísticos - 1ºano
2009

ENTREVISTA: NATACHA FONTINHA


"OS OUTROS É QUE ME PODEM
ACHAR DESENQUADRADA"


O calor da tarde de Verão parece atrasar os movimentos, até que ela chega. Colorida, Natacha Fontinha, gerente da Bad Bones, espalha energia por onde passa.

A sua família condicionou o gosto que tem pela tatuagem?
Não. A partir dos 16 anos achei que devia descobrir o que queria. Quanto ao gosto pela tatuagem, houve várias atitudes: a minha avó ficou um bocado reticente, mas acabou por aceitar. A minha mãe não tinha grande opinião e o meu pai só queria que eu estivesse bem. Perguntou-me sempre se não me ia arrepender. Um dia perguntou-me porque é que eu insistia tanto nesta vida, e eu respondi: “Quando começo uma coisa não é para desistir.”

Este amor nasceu consigo ou houve alguma coisa que o despertou?
Nada disso. Eu em miúda só gostava de cortar roupa e passar facturas e vender, foi sempre aquele bichinho do negócio (risos). A minha infância foi um bocado triste e solitária, mas tive tempo para pensar no que gostaria de fazer. Como sempre tive um sentido estético muito apurado trabalhava na moda, antes de estar com o Fontinha. Chegar aqui foi um passinho e o amor foi sendo ganho.

Todas as suas tatuagens têm um significado, um motivo?
Sim, para mim. Para os outros podem não ter.

Até porque é uma coisa muito pessoal…
Eu acho que é, mas pelos visto algumas pessoas não. Se a princesa, a manequim ou o actor têm, também fazem. Se calhar nem pensam porque é que essas pessoas o fizeram.

Tem uma que considera mais importante, ou que gosta mais do que as outras?
(Faz uma pausa para reflectir.) Eu acho que todas foram feitas com muita emoção. Talvez o retrato do meu filho seja mais especial. Quando ele nasceu, tatuei o nome dele, mas ele andou imenso tempo a dizer que eu não tinha o retrato dele e o pai tinha. Senti-me em falta para com ele e então resolvi, precisamente no Dia do Pai, fazer o retrato, com a data e assinado pelo Fontinha. Eu sei lá, sou tão distraída, um dia podia-me esquecer (risos).

Alguma vez se sentiu desenquadrada da sociedade?
Eu não, os outros é que me podem achar desenquadrada (risos). Sinto-me bem comigo própria, mas ainda hoje, que as pessoas já sabem quem eu sou, não é fácil. Acho que já lido bem com isso. Quando não tinha tatuagens era o cabelo ou outra coisa qualquer. Havia sempre um motivo para ser diferente.

A descriminação ainda se faz sentir em Portugal?
Basta ter um defeito que seja visível para se ser descriminado. Portugal é um país no sul da Europa, guiado por um regime católico. Perdoem-me os católicos, mas eu acho que é uma "beatice" falsa dizerem que a tatuagem é o anti-cristo. E o que se passa nos colégios de freiras? O meu filho esteve numa escola católica e foi horrível! Acho que as pessoas são descriminadas pelo que quer que seja; ou porque têm uma pestana verde ou porque nasceram com um olho de cada cor. Se calhar falta-lhes tolerância.

Tem-se vindo verificar que o gosto pela tatuagem começa a ser comum a quase todos os grupos sociais. O que pensa disto?
Acho bem. Porque é que as pessoas não hão-de ter direito a tatuar-se todas? A sociedade é uma linha de montagem da Autoeuropa. Se descer o Chiado ou se for a uma esplanada, as pessoas falam com o mesmo sotaque, usam o mesmo telemóvel, bebem o mesmo tipo de bebida, frequentam a mesma discoteca e até vão de férias para os mesmos sítios. Ser preto, branco ou azul é indiferente, desde que se seja um ser tolerável e que transmita bons valores ao próximo. É isso que eu transmito hoje ao meu filho.

Falando no seu filho… Acha que ele vai seguir os passos dos pais?
Não, nem pensar (risos). Acho que ele tem uma veia artística bastante grande, mas é engraçado como a vida nos surpreende. Eu que odiava futebol, o meu filho nasceu a adorar. Hoje, aquele ser que acabou de fazer dez anos, obrigou-me a gostar da "bola". Até nessas situações nós temos de saber adaptar-nos e tirar partido. Eu divirto-me imenso, nem imaginava que me fosse divertir tanto. Desde muito cedo ele me pedia para jogar futebol e tive que me render à evidência. Com certeza vai gostar de tatuagens, é um ser muito tolerante e vive neste meio desde que nasceu. Não sei se ele vai ser futebolista, mas de certeza que é desporto. Nem que fosse GNR, que é o que eu mais odeio (risos), eu apoiava na mesma. É o meu filho, eu tenho que perceber que só tenho que apoiar e dar força para ele seguir em frente.

Dada a situação em que o país se encontra, preocupa-a o futuro do seu filho?
Não é o país, é o mundo. Não é a crise económica que me preocupa, são os valores sociais. O meu filho, e tantos outros, vão ser os homens de amanhã e nós, pais, temos de os preparar. Não vamos estar todos os dias ao lado deles, nem a vida inteira. Há que saber prepará-los e não criar uma geração imbecil, que vive para os computadores, para as mensagens, para aquelas porcarias das Playstations… Não sou contra as novas tecnologias, mas penso que o Homem ficou muito agarrado e esqueceu-se do restante. Em vez de querer o poder de comunicar, de dar, de partilhar, quer o poder económico. É a ambição desmedida.

Que balanço é que faz do seu percurso nesta profissão?
Voltava a fazer tudo outra vez. Foi difícil, mas todos os dias posso dizer que sou uma felizarda. O que é que eu posso mais desejar? Saúde, para poder continuar a trabalhar, e que as pessoas continuem a gostar da nossa loja, do nosso trabalho, e que a nossa equipa continue a ser forte.

Entrevista: JOANA REBELO MORAIS

Géneros Jornalísticos - 1ºano

2009

REPORTAGEM


GRITOS DE CULTURA URBANA


As tatuagens e o body piercing são uma constante no nosso dia-a-dia. Qual é a visão que a sociedade tem acerca deste assunto, sendo que tanto a tattoo como os piercings são uma parte integrante da Cultura Urbana? É um facto que muitas pessoas não se contentam em copiar estilos de vida de outros e preferem construir o seu próprio, dando assim início a uma era de "novos estilos de vida". As tatuagens e os piercings parecem constituir uma destas vagas.




Desde os mais remotos períodos históricos que o homem "marca" símbolos de cultura na pele. Para os egípcios tatuar o corpo era uma marca de religiosidade; nas comunidades primitivas do Pacífico, as marcas na pele funcionavam como sinal de ascensão social e no Japão as tatuagens eram usadas como maneira de punir. Apesar da concepção que as pessoas possam ter e dos riscos que implicam, a verdade é que a tatuagem e o body piercing fazem parte da nossa cultura de hoje.
Em algumas culturas juvenis, o desejo de viver “na margem” ganha forma através de manifestações corporais, que a sociedade percepciona como excessivas, divergentes ou transgressoras de limites e possibilidades de utilização decorativa do corpo. Por outro lado, a natureza revolucionária e contestatária investida nestas práticas tem vindo a ser convertida, à medida que vão sendo absorvidas pelo mainstream.
Em Lisboa, trata-se de um fenómeno recente, já que começou a ter visibilidade pública há cerca de 13 anos. Neste período de expansão, Lisboa passou a albergar um grande número de lojas dedicadas a esta prática, mas a qualidade nem sempre lhes era associada. Segundo Cristian Barcelos, tatuador da Lisboa Ink, não existem características ou traços comuns de quem adere a estas práticas, não indicando de um estilo de vida diferente. “Todas as pessoas estão habituadas a ver tatuagens e piercings, por isso não acho que haja uma certa elite ou sub-cultura para o fazer.” No passado pretendia-se, com estas práticas, ter um estilo de vida diferente, que hoje já se vulgarizou. Tornou-se quase impossível diferenciar dos demais quem adere a estas práticas para marcar a diferença.

Reportagem: JOANA REBELO MORAIS
Géneros Jornalísticos - 1ºano
2009

terça-feira, 2 de março de 2010

FÁBRICA SIMÕES

Reportagem 0 - Técnicas de Expressão Televisivas - 2º ano

REPORTAGEM & EDIÇÃO: ANA RITA CARMELO & JOANA REBELO MORAIS

2010

1,4 MILHÕES DE PORTUGUESES NAS REDES SOCIAIS


Reportagem 0 - Técnicas de Expressão Televisivas - 2ºano
REPORTAGEM & EDIÇÃO: PEDRO FERNANDES
2010